os encontros assim se fazem:
um aciona a própria falta no outro,
os sozinhos únicos serão companhia
até que o é venha
a partir, estamos. até que ele vem.
esse
é. ponto, reto, único, plano, preciso, cometa, sem pele, espesso, esperto. esse é. irrefutável, brusco. algo é. insistimos no não, em resposta a ele.
mas é, e é e é. algo é. não tem o que fazer. algo é.
e nós?
ali, na outra margem, em pé. à sua frente.
nos encaramos.
ontem,
o é e eu.
hoje,
olho outra vez.
não me mexo. é. ele afirma.
e eu? eu soube. antes eu já sabia, acho que sempre sabemos. mas na hora em que o é se faz. na hora em que o é surge, é sempre um susto, e no susto não importa se sabíamos ou não, se era previsto ou não. se esse é estava à espreita, se estava nu, se estava em forma de sopro ou sussurro. um assalto sem roubo. mas com violência. não sei o que é pior. talvez prefira o roubo, porque ao menos, no roubo, sabemos o que nos foi
já no é, esquecemo-nos. e ficamos ali, nele.
o é veio, finalmente. áspero, sem invólucro nenhum, ratinho, lixava meus agoras. foi algo que roeu esses agoras por anos, lentamente, até o é se fazer, na frente, logo nos pés. torci o nariz. não gostei.
mas era meu esse é. era preciso que eu o pegasse no colo. era meu filho, homem, estrangeiro à mim. é. sem meu começo. sem a minha inicial. inteiro apesar.
as horas restantes serão nossas. nós dois juntos: o é e eu.
não queria, não quero. mas será assim. o é e eu, nossos sozinhos em união, faremos agora falta um para o outro.
Dora de Assis